segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Discrepância cósmica e existência de neutrinos

Os neutrinos, algumas das partículas mais numerosas do Universo, também estão entre as mais misteriosas.

neutrino de elétron aparece no detector Super Kamiokande

© T2K (neutrino de elétron aparece no detector Super Kamiokande)

A imagem mostra Um candidato a neutrino de elétron aparece no detector Super Kamiokande, do experimento japonês T2K, que já observou um número recorde de neutrinos trocando de “sabor”.

Nós sabemos que eles têm massa, mas não quanta massa. Sabemos que eles têm pelo menos três tipos, ou “sabores”, mas podem existir mais.
Um novo estudo descobriu que uma discrepância entre observações de aglomerados galácticos e medidas da radiação cósmica de fundo poderiam ser explicadas se neutrinos fossem mais massivos do que se acredita normalmente. Isso também oferece indícios tentadores da existência de um quarto tipo de neutrino, que até agora nunca foi observado.
A tensão entre aglomerados galácticos e a radiação cósmica de fundo (CMB, em inglês) é um problema cada vez maior, mas que talvez possa ser resolvido com a obtenção de dados melhores nos próximos anos.
A radiação de fundo mostra as pequenas variações de densidade no Universo primitivo que fizeram a matéria se acumular em alguns lugares e deixar espaços vazios em outros. O resultado final dessa aglomeração pode ser visto no Universo recente, com a disseminação de aglomerados galácticos pelo espaço.
As melhores medidas da radiação cósmica de fundo vieram do telescópio orbital Planck da ESA, em março de 2013.
Medidas de aglomerados galácticos, por outro lado, vêm de vários métodos, e entre eles está o mapeamento da disseminação de massa pelo Universo; esse mapeamento é realizado com a localização de lentes gravitacionais, a curvatura da luz provocada por aglomerados galácticos.
As duas medidas, porém, são discrepantes entre si. “Nós comparamos o Universo primitivo com o Universo mais recente, e temos um modelo que extrapola os dois”, explica Richard Battye da University of Manchester, na Inglaterra. “Se ficarmos com o modelo que se adequa aos dados da radiação cósmica de fundo, o número de aglomerados encontrados se torna menor que o esperado por um fator de dois”.
A discrepância poderia ser explicada se neutrinos tiverem atrapalhado o processo de formação de aglomerados galácticos, o que é uma possibilidade se essas partículas tiverem massa suficiente.
Acredita-se que em algum momento do passado o Universo cruzou um limiar energético que correspondia à massa dos neutrinos: quando o Universo ainda era quente e denso, no início de sua vida, neutrinos teriam sido relativísticos, movendo-se à velocidade da luz. Nesse estado, eles não teriam se aglomerado sob a força de sua própria atração gravitacional.
Após o Universo esfriar e cruzar o limiar energético, porém, neutrinos teriam desacelerado e começado a se mover a velocidades sub-luminares. Então eles finalmente teriam começado a se aglomerar como o resto da matéria do Universo. “O número de aglomerados galácticos que veríamos no Universo é uma função da massa dos neutrinos”, explica Battye. “Quanto mais massivos eles forem, maior sua contribuição para a densidade total de matéria do Universo, e eles acabam limitando levemente o processo de formação de aglomerados galácticos”.
Battye e seu colaborador, Adam Moss da University of Nottingham, na Inglaterra, descobriram que o número de aglomerados que vemos atualmente pode ser explicado se as massas dos três neutrinos conhecidos chegarem a aproximadamente 0,32 elétron-volt (com uma variação de 0,081), ou cerca de um terço de bilionésimo da massa de um próton.
Estimativas anteriores sugeriram que a massa dos neutrinos só precisaria atingir 0,06 elétron-volt. Uma massa total tão grande seria surpreendente e “muito interessante, com várias consequências positivas”, observa o físico teórico André de Gouvêa da Northwestern University, que não se envolveu no estudo.
Isso indicaria, por exemplo, que os três sabores de neutrino – elétron, múon e tau – têm quase exatamente a mesma massa, o que seria um pouco inesperado. Isso “teria um impacto sobre a maneira com que tentamos compreender o mecanismo por trás de massas de neutrino”, aponta Gouvêa.
Além disso, Battye e Moss encontraram evidências de que um quarto tipo de neutrino pode existir: um que seja “estéril”.
“A ideia é muito empolgante”, declara o físico Joseph Formaggio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que também não participou do estudo. “Nós esperamos encontrar três neutrinos. Mas com quatro haverá uma física além do Modelo Padrão”.
Os três neutrinos conhecidos têm a capacidade bizarra de trocar de sabor. Um neutrino estéril não seria capaz de fazer isso, e teria uma interação ainda mais fraca com a matéria comum que os sabores conhecidos, que já são bem tímidos.
Há muito tempo teóricos sugerem que neutrinos estéreis podem existir, mas até agora não há provas disso. Indícios recentes de alguns aceleradores de partículas, porém, começaram a sugerir que eles estão por aí. “O que é realmente interessante é que a massa desse neutrino estéril é consistente com o que foi observado pelos outros experimentos”, aponta Formaggio.

E, coincidentemente, outro estudo apoiando a ideia de neutrinos estéreis e massas maiores para essas partículas também foi produzido. Esse trabalho, conduzido por Mark Wyman da University of Chicago, também examinou tensões entre os dados do Planck e aglomerados galácticos, e chegou a conclusões semelhantes às de Battye e Moss.
Durante muitos anos acreditou-se que neutrinos não tinham massa nenhuma, mas a descoberta de que eles podem trocar de sabor também provou que eles têm pelo menos um pouquinho de massa.
Acredita-se que o estado de cada sabor seja uma mistura das três massas desconhecidas dos neutrinos e é por causa dessa mistura que qualquer sabor tem uma chance de se transformar em um dos outros com o passar do tempo.
A transformação só é possível se os estados de massa forem diferentes uns dos outros, e essa diferença só é possível se a massa dos neutrinos for diferente de zero, explica Formaggio.
Experimentos que tentam capturar neutrinos durante sua mudança de sabor poderiam ajudar a localizar as diferenças entre as massas dos neutrinos e nos dizer qual deles pesa mais, a chamada “hierarquia de massa de neutrinos”.
Um desses experimentos, chamado de NuMI Off-Axis νeAppearance (NOvA), registrou seus primeiros neutrinos na semana passada.
O experimento cria um feixe de neutrinos no Acelerador do Laboratório Nacional Fermi, perto de Chicago, e os envia para dois detectores, um perto do Fermilab e outro a 800 km de distância, em Ash River, no estado de  Minnesota. Todas as partículas começam como neutrinos de múon mas, em eventos raros, alguns deles chegam ao detector distante após se transformarem em neutrinos de elétron, que criam uma assinatura diferente. A frequência com que isso acontece está relacionada com a diferença entre as massas dos neutrinos de múon e de elétron.
Outro experimento, realizado no Japão, chamado de projeto Tokai to Kamioka (T2K) também procura essas transformações. A equipe anunciou na semana passada ter observado uma quantidade recorde de 28 candidatos a mutações de neutrinos de múon em neutrinos de elétron, e a previsão é que apenas cinco desses eventos sejam outros processos disfarçados.
Essa é a evidência mais forte até o momento para esse tipo de oscilação de neutrino, ainda que muito mais dados sejam necessários para responder perguntas a respeito das massas dessas partículas. “Isso é uma espécie de marco de percurso em uma corrida muito longa”, compara Formaggio. Os dois experimentos são complementares, explica Rick Tesarek, vice-líder de projeto do NovA. “O NovA têm algumas capacidades que o T2K não têm” e vice-versa. Os experimentos usam tecnologias diferentes de detecção que são sensíveis a efeitos diferentes, e o projeto NovA tem uma distância maior entre seu feixe de neutrinos e os detectores mais afastados.
Conforme esses experimentos coletam mais dados, os segredos das massas dos neutrinos podem ser revelados.
Os próximos anos também devem mostrar se as medidas de aglomerados galácticos realmente são incompatíveis com os dados da radiação cósmica de fundo, e assim esclarecer se esses dados indicam massas maiores de neutrinos e/ou um neutrino estéril. “As medidas melhoram o tempo todo”, observa Battye. “Eu imagino que em cinco anos nós saberemos se isso está certo ou não”.

O novo estudo foi publicado na edição de fevereiro no periódico Physical Review Letters.

Fonte: Scientific American

Novo dispositivo solar para gerar eletricidade

Paineis solares estão se tornando cada vez mais comuns. Esses dispositivos são criados com células fotovoltaicas, que absorvem os fótons da luz solar e energizam elétrons no material da célula, criando eletricidade.

dispositivo solar termofotovoltaico

© MIT (dispositivo solar termofotovoltaico)

Imagem do dispositivo em funcionamento. A brilhante faixa laranja é o cristal fotônico, aquecido pela luz solar concentrada e emitindo fótons para a célula fotovoltaica abaixo.

Atualmente, porém, a eficiência máxima de células fotovoltaicas comerciais é de aproximadamente 20%. Essa baixa eficiência vem do fato de que apenas fótons com uma certa quantidade de energia, ou seja, apenas parte do espectro solar, conseguem transferir energia suficiente para os elétrons formarem uma corrente; na prática, os outros fótons são desperdiçados.
A luz solar pode ser convertida em energia térmica, que por sua vez também pode ser usada para gerar eletricidade. A vantagem é que nenhuma parte do espectro é desperdiçada; todas podem ser convertidas em calor. Mas gerar eletricidade a partir de energia térmica solar normalmente requer um sistema de grande escala, com um arranjo de espelhos que refletem e concentram a luz do Sol em tanques ou canos cheios de água ou outros líquidos. O fluido aquecido normalmente é usado para produzir vapor, que gira uma turbina, gerando eletricidade. Ainda que a eficiência desses sistemas seja maior que a de células fotovoltaicas, cerca de 30% em alguns casos, eles não podem ser reduzidos para serem instalados no seu telhado.  
Para superar os vários obstáculos de sistemas solares térmicos e fotovoltaicos, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) criou um novo dispositivo que combina os elementos dos dois. Essa invenção é conhecida como “dispositivo solar termofotovoltaico”.
Ainda que outros pesquisadores tenham desenvolvido dispositivos desse tipo no passado, a nova criação é a mais eficiente até o momento, de acordo com Evelyn Wang, professora associada de engenharia mecânica do MIT. Mas apesar do avanço, o dispositivo só atinge uma eficiência de 3%.

Mesmo assim, a conquista é notável. Há dois anos, Alejandro Datas, pesquisador da Instituto de Energia Solar da Universidade Politécnica de Madrid, que não se envolveu no estudo, construiu um dispositivo termofotovoltaico que alcançou 1% de eficiência. Ele aponta que triplicar essa eficiência em tão pouco tempo é algo significativo.
Para construir seu dispositivo, os cientistas do MIT usaram nanotubos de carbono, que absorvem luz solar com extrema eficiência; eles se aproximaram do teórico “corpo negro”, que absorve 100% da luz que os atinge.

Os cientistas usaram luz solar concentrada no absorvedor de carbono, elevando sua temperatura a aproximadamente mil graus Celsius. O absorvedor fica anexado a um cristal fotônico, composto de um conjunto de camadas de silício e dióxido de silício, que começa a brilhar em temperaturas tão altas. O cristal brilhante emite fótons, que viajam até a célula fotovoltaica subjacente. Mas ao contrário da luz solar comum, a maior parte dos fótons emitidos pelo cristal tem energia suficiente para fazer com que os elétrons gerem uma corrente elétrica. Ao converter a luz solar em calor, e depois reconvertê-la em luz, o dispositivo ajusta a energia dos fótons absorvidos pela célula fotovoltaica, maximizando seu potencial para gerar eletricidade.
Como os nanotubos de carbono absorvem a luz solar com tanta eficiência, eles não desperdiçam nenhuma parte do espectro, convertendo quase todo ele em energia térmica.
Wang explica que como a luz do Sol também é transformada em calor, essa energia pode ser armazenada com mais facilidade que a eletricidade direta produzida por células fotovoltaicas. A energia pode ser armazenada usando meios térmicos ou químicos, isso pode ser feito com a utilização de compostos químicos como sal derretido que se liquefaz quando aquecido, e em seguida libera o calor absorvido quando volta a se solidificar.
Andrej Lenert, alundo de doutorado do MIT, aponta que “a qualquer momento em que se passa por esse processo de conversão térmica, abre-se a possibilidade de armazenar essa energia na forma de calor”. Essa capacidade permite que a energia solar armazenada na forma de calor seja convertida em eletricidade no futuro, seja à noite ou quando o Sol estiver coberto. Armazenar a eletricidade de células fotovoltaicas convencionais exige baterias, que não são práticas na escala de telhados, e que têm alto custo em escalas maiores.
Além do aumento na eficiência, Lenert acredita que o trabalho de sua equipe servirá como referência para avanços futuros na área da termofotovoltaica solar. “Acredito que os procedimentos experimentais e as metodologias que estabelecemos beneficiarão o avanço da comunidade”, declara ele.
Esse grande avanço, é claro, será superar a marca de 20% de eficiência estabelecida por células fotovoltaicas.
Wang acredita que a equipe está no caminho certo. Parte do problema, de acordo com ela, é a escala. O dispositivo que eles construíram tem o tamanho de uma unha; como a área é pequena em relação ao comprimento das extremidades, perde-se mais calor por meio da inevitável dissipação. O aumento do tamanho resultará em um aumento exponencial da área em relação ao comprimento, reduzindo a perda de calor. “Se pudermos aumentar a escala, conseguiremos superar a eficiência de 20%”, conclui ela.

Fonte: Nature Nanotechnology

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Experimento NOvA vê os primeiros neutrinos

Cientistas do experimento NOvA anunciaram que foram captados os seus primeiros neutrinos.

aglomerado de galáxias RDCS 1252.9-2927

© ESO/P.Rosati (aglomerado de galáxias RDCS 1252.9-2927)

O experimento NOvA [NuMI (Neutrinos at the Main Injector) Off-Axis νe Appearance] é composto por dois grandes detectores de partículas situados a 500 quilômetros de distância, e seu trabalho é explorar as propriedades de um intenso feixe de partículas fantasmagóricas chamadas neutrinos. Os neutrinos são abundantes na natureza, mas eles raramente interagem com outra matéria. Estudá-los pode render informações cruciais sobre os primeiros momentos do Universo.

Diferentes tipos de neutrinos têm massas diferentes, mas os cientistas não sabem como essas massas se diferem um do outro. O objetivo do experimento NOvA é determinar a ordem das massas dos neutrinos, conhecida como a hierarquia de massa, que vai ajudar os cientistas a estreitar sua lista de possíveis teorias sobre a função dos neutrinos.
Bilhões dessas partículas são enviadas à Terra a cada dois segundos, atingindo os detectores de massa. Uma vez que a experiência é totalmente operacional, os cientistas vão identificar poucos deles a cada dia.

Os neutrinos são partículas curiosas. Elas têm três tipos, chamados de sabores, e mudam entre eles quando eles viajam. Os dois detectores do experimento NOvA estão colocados tão distantes para propiciar aos neutrinos o tempo de oscilar de um sabor para outro durante a viagem, quase à velocidade da luz.

Os cientistas geraram um feixe de partículas para o experimento NOvA usando um dos maiores aceleradores do mundo, localizado no Departamento de Energia do Fermi National Accelerator Laboratory, em Chicago. O feixe está direcionado para os dois detectores de partículas, um perto da fonte do Fermilab e o outro no rio Ash, em Minnesota, perto da fronteira com o Canadá. O detector no rio Ash é operado pela Universidade de Minnesota sob um acordo de cooperação com o Departamento de Energia.

Depois de concluído, os detectores próximos e distantes do NOvA vai pesar entre 300 e 14.000 toneladas, respectivamente.

"Os primeiros neutrinos significa que nós estamos no nosso caminho", disse o físico Gary Feldman da Universidade Harvard que participa do experimento desde o início. "Começamos a mais de 10 anos atrás a elaboração da criação desta experiência, por isso estamos ansiosos para obter resultados."

A colaboração NOvA é composta por 208 cientistas de 38 instituições nos Estados Unidos, Brasil, República Checa, Grécia, Índia, Rússia e Reino Unido. O experimento NOvA está programado para ser executado por seis anos.

Dedido o fato de os neutrinos interagirem com a matéria tão raramente, os cientistas esperam capturar apenas cerca de 5.000 neutrinos ou antineutrinos durante esse tempo. Os cientistas podem estudar o momento, a direção e a energia das partículas que interagem em seus detectores para determinar se eles vieram do Fermilab ou de outro lugar.

O Fermilab cria um feixe de neutrinos por colisão de prótons em um alvo de grafite, que libera uma variedade de partículas. São utilizados ímãs para orientar as partículas carregadas que emergem a partir da energia de colisão num feixe. Algumas dessas partículas decaem em neutrinos, e após são filtrados os não-neutrinos do feixe.

A imagem no topo mostra o aglomerado de galáxias RDCS 1252.9-2927 no Universo primordial, que se situa a cerca de 8,5 bilhões de anos-luz. Ele existia no momento em que o Universo tinha menos de 5 bilhões de anos. A imagem colorida composta do aglomerado de galáxias mostra a luz em raio X (roxo) a partir do gás com temperatura de 70 milhões de graus Celsius, e no óptico (vermelho, amarelo e verde) a luz das galáxias no aglomerado. Dados de raios X do Chandra e do XMM-Newton mostram que este aglomerado foi totalmente formado a mais de 8 bilhões de anos atrás. A massa medida de mais de 200 trilhões de sóis torna este aglomerado de galáxias o objeto de maior massa já encontrado quando o Universo era muito jovem. A abundância que os aglomerados cde galáxias apresentam são consistentes com a ideia de que a maioria dos elementos pesados ​​foram sintetizados no início da formação de estrelas de grande massa, mas as teorias atuais sugerem que um grupo tão grande deve ser raro no Universo primitivo.

Fonte: Fermi National Accelerator Laboratory

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Avanço nas pesquisas sobre fusão nuclear

Cientistas anunciaram esta semana um importante avanço na longa busca do desenvolvimento da fusão nuclear, o que para alguns representa o sonho de uma fonte de energia limpa e ilimitada.

cápsula que contém combustível para a fusão nuclear

© LLN (cápsula que contém combustível para a fusão nuclear)

Presente no Sol e em muitas outras estrelas, a fusão implica na liberação de energia por meio da união de núcleos atômicos, diferentemente da provocada pela fissão nuclear, princípio físico da bomba atômica e da energia nuclear usada atualmente nas usinas, que envolve a quebra do núcleo dos átomos.

Décadas de trabalho sobre a fusão tentaram superar um obstáculo gigantesco: a enorme quantidade de energia necessária para desencadear o processo. No entanto, experiências de laboratório, descritas atualmente por um grupo de cientistas nos Estados Unidos, permitiram fazer grandes avanços na superação desses obstáculos.

Os cientistas americanos afirmaram ter sido os primeiros a obter mais energia de uma reação de fusão do que a absorvida pelo combustível usado para provocá-la.

Eles fixaram 192 feixes de laser na direção de um ponto mais estreito do que a largura de um cabelo humano para gerar energia suficiente para comprimir uma minúscula cápsula de combustível a um tamanho 35 vezes menor que o original.

Com duração de menos de um bilionésimo de segundo, a reação liberou energia equivalente à armazenada em duas baterias AA (17 mil Joules) na última experiência realizada em novembro de 2013.

Apesar de modesta, a liberação de energia foi maior do que a energia absorvida pelo combustível, estimada entre 9 mil e 12 mil Joules.

"Isto é o mais próximo que se chegou" do sonho de gerar energia viável resultante de uma fusão, disse Omar Hurricane, chefe da equipe que realizou o estudo na estatal National Ignition Facility (NIF), da Califórnia.

A energia é dez vezes superior à alcançada anteriormente, embora haja alguns obstáculos. Não se trata de uma reação sustentada, o tão buscado momento de "ignição", e a pergunta sobre a eficiência energética, ou seja, a liberação de uma energia superior à consumida para lançar o processo, permanece sem resposta.

Neste caso, os feixes de laser liberaram 1,9 milhão de Joules de energia, o equivalente a uma pequena bateria de carro, dos quais só entre 9 mil e 12 mil Joules foram absorvidos pelo combustível.

"Só algo da ordem de 1% da energia que usamos com o laser termina no combustível, ou até menos", disse a co-autora do estudo, Debbie Callahan. "Há muito espaço para continuarmos avançando", prosseguiu.

O método precisa ser aperfeiçoado e o rendimento deve ser 100 vezes melhor "antes de que possamos chegar ao ponto de ignição", acrescentou Hurricane.

A ignição também requer auto-propagação, por meio da qual as primeiras partículas fundidas causam o calor e a pressão necessários para gerar outras, criando assim novas partículas e melhorando o rendimento.

Os últimos experimentos no NIF, um feito em setembro do ano passado e o outro em novembro, foram os primeiros a lançar provas de que as partículas deixam um pouco de energia atrás delas.

A fusão nuclear é o oposto da fissão, que apresenta como riscos a proliferação nuclear, assim como os rejeitos perigosos e duradouros.

Os núcleos de deutério e trítio, ambos isótopos obtidos a partir do hidrogênio, podem, ao contrário, se fundir para criar partículas mais pesadas.

Em teoria, a energia gerada através da fusão não resultaria em rejeitos perigosos nem contaminaria a atmosfera. Além disso, o combustível é encontrado com maior abundância: na água do mar, que cobre mais de dois terços do planeta.

O procedimento requer temperaturas extremas e pressões equivalentes às encontradas no nosso Sol e em outras estrelas ativas.

Para concretizar este objetivo, Hurricane e sua equipe dispararam seus raios laser contra um cilindro de ouro de dois milímetros de diâmetro, recoberto por dentro por uma camada congelada de combustível de deutério e trítio.

Os feixes de luz entraram através de buracos por um lado e se focaram como raios que impactaram a cobertura externa da cápsula e provocaram sua implosão, algo equivalente a reduzir uma bola de beisebol ao tamanho de uma ervilha.

O processo gera uma pressão 150 bilhões de vezes superior à exercida pela atmosfera terrestre e uma densidade de 2,5 a 3 vezes superior à do núcleo solar, disseram os cientistas. Segundo o cientista especializado Mark Herrmann, do Pulsed Power Sciences Center, de Albuquerque, trata-se de "um avanço significativo na pesquisa sobre a fusão".

Fonte: Nature

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Monopolos magneticos sintéticos são gerados

Um análogo de uma partícula compreendendo um pólo magnético isolado tem sido observada por físicos nos EUA e Finlândia.

ilustração de um monopolo magnético sintético

© Heikka Valja (ilustração de um monopolo magnético sintético)

Os monopolos magnéticos foram previstos por Paul Dirac em 1931, mas nunca foram vistos na natureza. Este último trabalho não prova a existência das partículas incomuns, mas mostra que um sistema físico descrito por uma matemática subjacente pode ser criado em laboratório. A pesquisa também pode ajudar os físicos a obter uma melhor compreensão de materiais exóticos, como supercondutores, e até mesmo criar materiais com propriedades novas e úteis.
Os pólos magnéticos são sempre visto em pares, não importa quão pequeno é o ímã. Um ímã de barra comum consiste de um pólo norte e um pólo sul; se o ímã é cortado em dois, em seguida, cada uma das metades resultantes também será bipolar. Na verdade, não importa quantas vezes o ímã é dividido, os pólos norte e sul permanecem acoplados, inclusive em átomos individuais, que agem como minúsculos ímãs. Isso se reflete nas equações de Maxwell, que dizem que cargas elétricas positivas e negativas isoladas existem, mas as cargas magnéticas isoladas não ocorrem na natureza.
Isso mudou quando a mecânica quântica foi formulada no início do século 20. Paul Dirac mostrou que para ocorrer naturalmente monopolos magnéticos exigiria carga elétrica em unidades discretas. Esta singularidade é visto na natureza, mas não é totalmente compreendida, e a busca de monopolos magnéticos é um campo ativo de pesquisa.
Até agora, os físicos têm tentado criar monopolos dentro de aceleradores de partículas, mas a massa do monopolo é geralmente considerada muito alta para permitir uma observação, mesmo a do Large Hadron Collider (LHC) do CERN. Outra opção era procurar ambientes imaculados, como a Lua ou na gélida Antártida, para encontrar sinais dos monopolos que as teorias da grande unificação predizem deveria ter sido criado quando o Universo esfriou e sua simetria inicial foi quebrada. Aqui também, no entanto, os pesquisadores vêm-se de mãos vazias.
A abordagem de David Hall e seus colegas no Amherst College, em Massachusetts e colaboradores da Universidade de Aalto, na Finlândia é a produção de um análogo do que é conhecido como um "monopolo de Dirac", a forma da mecânica quântica generalizada de um monopolo magnético apresentada por Dirac. Antes de 1931, ninguém tinha sido capaz de combinar eletromagnetismo e mecânica quântica clássica para permitir a existência de monopolos magnéticos, mas Dirac foi capaz de fazer isso por considerar o que acontece quando um monopolo interage com um elétron. Ele descobriu que quando um monopolo passa por uma nuvem de elétrons - a distribuição no espaço de um único elétron , como descrito pela mecânica quântica - deixa um vórtice em seu rastro, é como o escoamento da água que flui pelo ralo.
O grupo de Hall que reproduziu um vórtice em um condensado de Bose-Einstein de átomos de rubídio ultra frios. O condensado é uma onda de matéria única e permanece na nuvem de elétrons de acordo com formulação de Dirac. Para reproduzir o monopolo, os pesquisadores aplicaram um campo magnético no condensado para orientar os átomos constituintes de tal maneira que foi criado um campo magnético "sintético"no interior do condensado. Existe uma correspondência entre esse domínio sintético e o campo que seria produzido por um monopolo magnético. "Você pode obter exatamente as mesmas linhas no campo sintético e o local do monopolo onde essas linhas de campo brotam", diz Hall.
Para mostrar que eles realmente tinham produzido um monopolo de Dirac, os pesquisadores injetou um feixe de laser através do condensado. O feixe criou uma radiografia, onde a sombra projetada pelos átomos da amostra foi perfurada por uma estreita faixa de luz. Isso foi o vórtice criado por um pólo norte isolado (sendo norte ao invés de sul simplesmente por razões técnicas). Normalmente um vórtice criado dentro de um condensado de Bose-Einstein vai de um lado do condensado para outro.

Peter Holdsworth, um físico da matéria condensada na Ecole Normale Supérieure de Lyon, elogia o trabalho como "uma aplicação requintada da nanotecnologia, átomos frios, computação de alta potência e teoria inteligente". Ele ressalta que a equipe não provou a existência de monopolos magnéticos, mas forneceu a confirmação experimental da matemática de Dirac. "É um resultado importante e poderia levar a muitos outros resultados análogo ", diz ele.

Isso vai ajudar os físicos de partículas encontrar monopolos reais? Provavelmente não, mas deverá incentivá-los a continuar a procurando.
Hall reconhece os limites do trabalho de seu grupo. "Nossos monopolos não seria registrado por uma bússola. Nós não temos sido capazes de reproduzir as propriedades como a massa da partícula em nosso experimento, mas criamos um análogo da parte magnética. Isso pode fornecer algumas dicas sobre monopolos naturais", diz ele.

Ele argumenta que seu grupo chegou mais perto de imitar supostos monopolos magnéticos naturais do que outros três grupos que relataram resultados em materiais conhecidos como spin gelados em 2009. Em trabalho anterior, as coleções em forma de tetraedros de íons que compõem spin gelados foram observados sob certas condições para a aquisição de giro líquido, de modo que se assemelha tanto ao norte isolado ou pólo sul. Hall descreve estas experiências interessantes, mas sustenta que a conexão com monopolos de Dirac era bastante fraca e o fenômeno em questão era puramente clássico, em oposição ao quântico.
Este trabalho pode ajudar os físicos a realizar simulações quânticas da matéria. Este campo de rápido crescimento tem como objetivo compreender os materiais existentes e, finalmente, criar novos, talvez até mesmo supercondutores a temperatura ambiente.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista Nature.

Fonte: Physics World

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O mistério das bolas de fogo

Relâmpagos bola tem sido um dos fenômenos naturais mais misteriosos durante séculos, em parte porque é tão raro e transitório e, portanto, difícil de investigar.

relãmpago bola

© J. Cen, P. Yuan e S. Xue (relãmpago bola)

O raio bola é o ponto branco na extremidade esquerda, e seu espectro de forma irregular é a banda colorida. Mas uma observação fortuita durante experimentos de campo na China para estudar relâmpago comum, forneceu o que parece ser a primeira medição do espectro de emissão de raios globulares. Os dados sugerem que a bola brilhante foi composta de elementos de solo, de acordo com uma teoria popular.

Relâmpagos bola normalmente aparece durante as tempestades como um brilho, que vão desde o tamanho de uma bola de golfe a vários metros de diâmetro, que flutua no ar por entre um segundo e dezenas de segundos. Há muitos relatos históricos de tais "bolas de fogo" ferindo ou até mesmo matando pessoas e provocando incêndio em edifícios, conduzindo às explicações sobrenaturais.

As teorias científicas de relâmpagos bola abundam, com diferentes graus de plausibilidade. As bolas de plasma brilhantes foram criadas artificialmente pela passagem de micro-ondas intensas através do ar ou por descargas elétricas subaquáticas. Mas tais experiências de laboratório não podem ostentar qualquer relação com a formação de raios bola no meio ambiente, que se sabe muito pouco, uma vez que não houve quase nenhum dado sólido.

Uma teoria popular é que o raio bola é causado quando um raio atinge o solo e evapora alguns dos silicatos minerais no solo. O carbono no solo retira os silicatos de oxigênio através de reações químicas, criando um gás de átomos de silício energético. Os átomos se recombinam para formar nanopartículas ou filamentos que, embora ainda flutuando no ar, reagem com o oxigênio, liberando calor e emitindo o brilho. Se é assim, deve-se esperar para ver as linhas de emissão atômica de silício e outros elementos do solo no espectro.

Isso é o que Ping Yuan e colaboradores da Northwest Normal University em Lanzhou, na China, agora relatam. Eles haviam montado espectrômetros no remoto Planalto Qinghai, no noroeste da China para investigar relâmpago comum, que é frequente nesta região. Durante uma tempestade de fim de noite em julho de 2012, eles viram um raio bola aparecer apenas depois de um raio de cerca de 900 metros do seu aparelho e foram capazes de gravar um espectro e imagens de vídeo de alta velocidade da bola .

O brilho registrado tinha cerca de 5 metros de diâmetro, o tamanho real da bola era muito menor e ele mudou de branco para o vermelho durante o tempo que durou. Embora a escuridão impediu os pesquisadores de estimar a altitude da bola, eles viram que a bola deslocou horizontalmente por cerca de 10 metros e subiu cerca de 3 metros. Yuan diz que esta é a primeira vez que um raio bola foi visto sendo criado por um relâmpago nuvem-solo.

Os pesquisadores descobriram que o espectro continha várias linhas de emissão de silício, ferro e cálcio todos os elementos que deverão ser abundante no solo. Seria de esperar também a presença de alumínio, dada a sua abundância em minerais do solo. Mas não foi confirmado, pois não há linhas de emissão de átomos de alumínio neutro dentro da faixa espectral do instrumento (comprimentos de onda de 400 a 1.000 nanômetros). A equipe também usou seus dados de vídeo para traçar a intensidade do raio bola e diâmetro aparente à medida que varia com o tempo, até a escala de tempo de milissegundos. Os pesquisadores planejam simular as condições de observação e reproduzí-la em laboratório.

Fonte: Physical Review Letters